quarta-feira, 23 de janeiro de 2013
Béla Bartók
Béla Bartók é um dos meus compositores prediletos. Ele, para mim, está no patamar de um Beethoven ou Bach, tranquilamente. Escreveu obras belíssimas e geniais. Hoje gostaria de comentar umas das obras que mais admiro, que me fascina a cada nova audição: o Divertimento para orquestra de cordas.
Essa obra fora escrita no começo da Segunda Grande Guerra, na Suiça, e seu Adágio central atesta o grito de desespero que a Europa estaria prestes a dar.
Para uma pequena orquestra com apenas 12 violinos, 4 violas, 4 cellos e 2 contrabaixos, a peça tem três movimentos, todos eles geniais.
O Allegro inicial, em forma sonata, tem um tema inicial esplêndido, cativante. E segue como uma espécie de dança improvisada; os motivos melódicos e rítmicos - de inspiração pentatônica, mas, que evita a citação ao folclore - se encadeiam e se transformam num soberano à vontade. As diversas síncopes e ritmos quebrados é que dão a dinâmica ao movimento. Energia genial e explícita. Finalização calma.
Mas, é o Adágio central que eu acho que é a fulcro da obra toda. Peça fúnebre admirável, uma das páginas mais mágicas e geniais do século XX, aqui Bartók se encontra em um de seus melhores momentos. Somente ele poderia ter escrito esta página magnífica, nessa linguagem que é só dele e de mais ninguém. Esse Adágio apresenta no começo fórmulas cromáticas admiráveis, de onde nasce um tema, que cresce em intensidade até atingir um grito de desespero. Este grito poderia ser o grito da Europa diante da Guerra que se iniciava. Passagem forte e magnífica de Bartók neste momento de genialidade universal. São nesses momentos que ele faz testa com um Beethoven, tranquilamente. Depois do grito - que, por sinal, combina com o quadro O GRITO, de Munch - ai os violinos desenvolvem ainda seu mais puro lirismo, desembocando em mais um momento de tensão e de desespero. Para depois, tranquilamente, silenciar pouco a pouco. Marcante esta página de Bartók.
O movimento final - Allegro Assai - é outra maravilha dessa peça. Exemplo magnífico de orquestração de grande gênio moderno, este rondó tráz o carnaval e as cores vivas. O primeiro tema - bem cigano - se desenvolve com genialidade em forma de fugato alegremente animado; o segundo tema é mais grave, mais sério. Nesta passagem há uma cadência reservada ao violino solo à maneira cigana, cheia de virtuosismo exemplar. O ímpeto da vida, em dança, surge borbulhante nas próximas passagens deste movimento numa espécie de turbilhão rico em fantasias eróticas. Alguns compassos em pizicatos precedem o irresistível final acelerado ao máximo, como numa dança rodopiante de cigana, livre a girar na calçada de uma rua camponesa. Há muita virtuosidade nesta obra, mas, nunca em detrimento de uma certa espontaneidade um tanto rude, meio camponesa, altamente desejada pelo autor.
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