Powered By Blogger

CINEMA, MÚSICA, PINTURA

Este Blog é produzido e dirigido por:



Denison Souza, arte-educador, escritor free lancer;

meu trabalho já foi publicado no Jornal do Recôncavo e Correio da Bahia

sábado, 11 de maio de 2019

PEQUENO COMENTÁRIO SOBRE O PRIMEIRO MOVIMENTO ALLEGRO DO CONCERTO PARA VIOLINO DE SIBELIUS

Não sou fã de concertos, ainda mais de expressões românticas; mas certos concertos tem a seriedade de uma obra de câmara. O concerto para violino de Sibelius é um desses. Neorromântico e livre por excelência. Cheio de inovações inusitadas. Vamos falar como é um allegro inicial de um concerto tradicional. Temos uma introdução orquestral e em seguida a entrada do violino solando, que seria a exposição, que envolve geralmente dois temas. Um tema e depois o outro. Depois temos o desenvolvimento. Nesses compassos os dois temas são entrelaçados e a música progride usando os dois temas se desenvolvendo ao longo dos compassos. No final vem a reexposição onde os dois temas são repetidos, praticamente mudando muito pouco do que foi apresentado na exposição. E antes da coda (que são os compassos finais do movimento), vem uma cadência (que é um recitativo solo do violino); geralmente esta cadência fica há 3/4 do total de tempo do movimento. Sibelius nem está ai para as regras! No movimento inicial do concerto para violino de Sibelius ele faz tudo de forma diferente, sempre surpreendente e, diria até, anárquica. De início, não há uma introdução orquestral; as cordas da orquestra entram sussurando em trêmulo como numa sinfonia de Bruckner e o violino já entra com seu primeiro tema em 2/2 de forma incisiva, exótica, cruel. Sendo que a menos de dois minutos do movimento, de forma inusitada e surpreendente surge...uma cadência do violino...mais ou menos aos 1 min e 50 segundos de começada a música...mas, tão brilhante, quanto inesperada...mas como? ela só existe lá no final, 3/4 depois de começada a peça! Aqui, não. Há uma cadência logo no final da exposição do primeiro tema; atitude absolutamente inusitada e inédita. Como se não bastasse, depois da estranha cadência, surge, aos 2m30seg, o segundo tema, sendo que não tem solo de violino neste tema. O violino se cála e a orquestra fúnebre e assustadora lança o segundo tema tendo como foco os violoncelos e fagotes (que escolha estranha!) no estranhíssimo ritmo de 6/4, isso mesmo: 6/4, e sem participação do violino. Isso eu nunca vi, pelo amor de Deus, senhores! Dai vem o terceiro tema...aos 3 min e 40 seg mais ou menos, geralmente não há um terceiro tema...neste o violino se lança em seu mais lindo agudo, de expressão altamente romântica, sem ser piegas. Momento belíssimo do movimento, de claras linhas de pureza romântica. Depois dessa exposição altamente desenvolvida por si só, surge o verdadeiro desenvolvimento mais ou menos aos 4 min e 50. Mas, desenvolvimento de que? Se nem a orquestra e nem o violino retomam os três temas anteriores? Como assim? Isso mesmo, surge uma espécie de "desenvolvimento" com motivos temáticos novos. Uma nova música surge! O movimento entre os 5 min e os 7 minutos se apresenta como se fosse outra música, sem temas reconhecíveis. E para piorar, a cadência habitual, que deveria surgir um pouco antes da coda - lá quase no final do movimento, surge, do nada, exatamente no meio do movimento de 15 minutos (mais ou menos na marca dos 7 minutos), de forma longa e elegante. Usando o primeiro tema como embrião melódico. Nunca vi uma cadência tão rica e espetacular quanto essa! Ela vai dos 7 min aos 9 min e 30 seg. A reexposição, que vem logo depois da longa cadência, aos 9 min e 30 seg, adquire relevo inusitado, porque o violino parece improvisar ao absurdo e os três temas são reapresentados de forma demais variada, além do habitual. E a coda? Meu Deus! A sensacional e inteligente coda começa aos 14 min e 15 seg e aos 14 min e 50 seg (pasme!) chega a um ponto de polirritmo onde as madeiras aceleram a música, enquanto o violino mantém o seu ritmo anterior, criando um efeito inovador e perturbador. A escrita do violino recusa qualquer virtuosismo vão e se impôe à custa de uma permanente pesquisa da expressão sóbria e cuidadosamente calculada.O concerto como um todo se apresenta de forma rapsódica e livre! Para não dizer: anárquico! Denison Souza